Editorial: O Brasil quer saber: Lula, qual é a sua posição sobre a tortura?
Belo Horizonte, 15/11/2008 - O editorial "O Brasil quer saber: Lula, qual é a sua posição sobre a tortura?" foi publicado na edição de hoje (15) do jornal O Tempo, de Belo Horizonte:
"Quando o antagonismo celebra a partilha do poder, cedo ou tarde chega a hora em que simbiose parece desandar. E se o assunto é polêmico a ponto de guardar raízes na história, o constrangimento é infalível.
A querela estava lá, adormecido em páginas amareladas de 29 anos atrás. Mas o torce-e-retorce democrático não deixou a Lei de Anistia descansar em paz. Faz parte. Mesmo porque aquela "concessão" do ocaso militar aos irmãos do Henfil não aquietou nos porões da consciência torturada dos que sofreram e ainda sofrem. Para eles, "anistia ampla, geral e irrestrita, uma ova!"
Voltamos, em pleno 2008, à discussão teórica sobre a hipótese de prescrição do crime de tortura. O debate foi levado aos tribunais. Em uma ação, de forma direta, a Ordem dos Advogados do Brasil pede aos ministros do Supremo uma interpretação mais clara da lei. Noutro, indiretamente direto, os coronéis reformados Carlos Alberto Ustra e Audir Maciel respondem a processo movido por vítimas do regime. Hoje aposentados engalanados, os senhores comandaram o Doi-Codi, o subterrâneo da repressão nos anos de chumbo. Os dois casos merecem todo préstimo do espectador, mesmo daquele que não tinha consciência de nada antes de 1979. Mas a situação no STF pede atenção especial. Por ela, todas as esferas de poder foram convocadas a expor sua posição sobre a tortura. Coube institucionalmente à Advocacia Geral da União representar o governo federal.
E agora? O capital uniu-se ao trabalho. A esquerda casou-se com a direita. Aliados no Planalto, ex-perseguidos e ex-perseguidores. A AGU preferiu pedir mais uns dias para chegar a uma mediana consensual. É isso, enquanto o país exuma seus traumas, a Presidência segue em cima do muro do cemitério."