Conselho Pleno debate ações voltadas à advocacia durante a pandemia e analisa cenários futuros
O Conselho Pleno da OAB Nacional, reunido virtualmente em
caráter extraordinário e não deliberativo, nesta segunda-feira (13), debateu o
cenário que se apresenta à advocacia e à sociedade brasileira em função da
pandemia do novo coronavírus. A reunião aconteceu nos mesmos moldes do Colégio
de Presidentes de Seccionais, realizado no último dia 10.
O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, reforçou a
sensibilidade do atual momento. “Nosso primado é a preservação da vida e da
saúde de todos, respeitando os encaminhamentos e recomendações dos órgãos
competentes. Questões jurídicas, econômicas e sociais nasceram e nascem dessa
pandemia, que é uma situação absolutamente anormal para todos. A advocacia tem
desde já um papel importante na reconstrução do país após essa crise. Estamos
do lado certo da história quando afirmamos que é hora de ouvir os cientistas,
os biólogos, os médicos, enfim, apoiar a área da saúde”, destacou Santa Cruz.
Foram repassadas algumas iniciativas de autoria da OAB com
vistas ao combate e à mitigação dos efeitos do coronavírus para a advocacia e para
a sociedade. As primeiras medidas adotadas foram a autorização para a
seccionais adiarem o pagamento das anuidades por três meses; o envio de recursos
do Fundo de Integração e Desenvolvimento Assistencial dos Advogados (FIDA) para
auxiliar as seccionais; no âmbito do Conselho Federal, foram suspensas as
sessões ordinárias, reuniões institucionais e eventos e adotado o teletrabalho
para servidores e colaboradores até 30 de abril. Também foi solicitada a
inclusão da advocacia no rol de atividades essenciais.
O diretor-tesoureiro da OAB Nacional, José Augusto Araújo de
Noronha, também analisou o cenário. “Tem sido um aprendizado diário trabalhar
em tempos de coronavírus. Hoje todos nós precisamos construir pontes e o Fundo
Emergencial de Apoio à Advocacia precisa disso nesse momento. Vou fazer aqui o
mesmo apelo que fiz ao Colégio de Presidentes: divulgarmos a iniciativa em
nossas seccionais, em nossas bases, é muito importante, mas contribuirmos para
melhorar a situação de colegas é essencial. Que possamos colaborar com o fundo,
nos sensibilizar com a necessidade dos outros. É tempo de cooperação”, disse
Noronha.
O Conselho Federal adotou ações para requer a suspensão de
prazos processuais administrativos na esfera da Administração Federal; encaminhou
sugestões ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para o enfrentamento da
pandemia pelo Poder Judiciário; e solicitou a prorrogação do prazo de entrega
do Imposto de Renda e do pagamento das parcelas do Financiamento Estudantil
(FIES).
Vários conselheiros destacaram a importância das medidas
capitaneadas pela OAB Nacional de solicitar aos bancos a manutenção dos
pagamentos de requisições de pequeno valor (RPVs) e o levantamento de alvarás
durante a crise, assim como da liberação de precatórios e o requerimento ao
BNDES para que o auxílio financeiro do Governo Federal chegue aos pequenos
escritórios e às sociedades unipessoais de advocacia.
Para o vice-presidente nacional da OAB, Luiz Viana, a
pandemia escancarou alguns problemas sociais que já existiam antes dela. “Vejo
várias pessoas falando de uma nova advocacia no cenário pós-pandemia. Concordo
plenamente, mas não apenas por conta desse momento de isolamento, que, a meu
ver, só torna mais fácil para nós enxergarmos alguns problemas. Não é de hoje
que há inúmeros relatos de colegas que tentam sobreviver. Isso demonstra que
temos diferenças enormes de classes. Temos que nos preparar para, num futuro
não muito distante, lidar com uma revolução onde a solidariedade deve assumir o
papel de valor fundamental”, observou Viana.
Os conselheiros discutiram sobre os cenários futuros para advocacia
e a necessidade de defesa das prerrogativas da classe e a garantia do direito
de defesa. Em relação às sustentações orais, o Conselho Federal já solicitou ao
Supremo Tribunal Federal (STF) o caráter transitório para os julgamentos
virtuais e sustentação oral por vídeo, além de requer a publicação em tempo real
dos votos dos ministros no ambiente virtual da Corte. Ao Tribunal de Contas da
União foi pedida a revogação do dispositivo sobre sustentação oral por vídeo e
ao Superior Tribunal de Justiça a regulamentação de sustentação oral em
julgamentos por videoconferência.
Também foi destacado por conselheiros os pareceres feitos
pela OAB Nacional sobre tentativas de ferir os direitos fundamentais dos
cidadãos e de risco à democracia. Foram consideradas inconstitucionais a
tentativa de decretação do estado de sítio assim como pontos da Medida
Provisória 927 que institui medidas trabalhistas para o enfretamento dos
efeitos da pandemia no mercado de trabalho. Junto ao STF, a OAB conseguiu a
suspensão da Medida Provisória que restringia a Lei de Acesso à Informação.
Em ação da OAB, o STF concedeu liminar assegurando a competência
dos estados e municípios decidirem sobre o isolamento social no combate à
pandemia. O Conselho Federal ainda requer que o Governo Federal e a Presidência
da República cumpram os protocolos da Organização Mundial de Saúde para de
contenção do coronavírus e o imediato pagamento de benefícios para garantir
empregos e renda para os mais afetados pela pandemia.
O secretário-geral da Ordem, José Alberto Simonetti Cabral,
e o secretário-geral adjunto, Ary Raghiant Beto, destacaram a necessidade da
união, da solidariedade e da confiança para que a normalidade seja alcançada o
mais breve possível. A OAB Nacional se
uniu a várias entidades da sociedade civil para lançar um “Pacto pela Vida e
pelo Brasil”, ressaltando a necessidade de união de todos os cidadãos, governos
e Poderes da República para enfrentar a grave crise sanitária, econômica,
social e política que vive o país.