Artigo: O Senado, a Câmara e os seus gastos

quarta-feira, 22 de abril de 2009 às 02:18


Porto Alegre (RS), 22/04/2009 - O artigo "O Senado, a Câmara e os seus gastos" é de autoria do presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio Grande do Sul, Claudio Lamachia, e foi publicado na edição de hoje (22) do jornal Zero Hora (RS):


"Estão começando a parecer meras bravatas as lutas que se travam neste país para eliminar as ondas de indecência que marcam o cenário político brasileiro.


Mal a sociedade consegue metabolizar um escândalo e logo vem outro, num repente que faz estalar os olhos e os ouvidos daqueles que acompanham as notícias do dia. Num átimo, ficamos sabendo, entre escaldados e estarrecidos, que sustentamos o Senado mais caro do planeta, graças, dentre outras mazelas, ao sem-número de diretorias criadas apenas para abrigar apadrinhados políticos e beneficiários de horas extras fantasmas.


Poucos dias depois, vem à tona a farra das passagens aéreas patrocinadas por alguns próceres da Câmara dos Deputados. Em certos casos, já beira o escárnio a desfaçatez com que alguns parlamentares buscam justificar altos gastos desnecessários que muito melhor ficariam se fossem investidos no bem-estar da população.


Os sucessivos maus exemplos emanados de Brasília - principalmente - passam a equivocada e perigosa sensação de que é inglória a batalha contra os inimigos da probidade, já que são extremamente fortes os poderosos de plantão. A mídia cumpre seu papel ao estampar as denúncias de escândalos, mas também cabe à sociedade cobrar decência na condução política e administrativa nas mais importantes casas legislativas do país.


As medidas saneadoras e moralizadoras que são adotadas após as chocantes e indigestas revelações dos gastos absurdos não curam a indignação causada pelas notícias sobre os ralos por onde escorrem farta e erradamente as verbas públicas. Parece que as respostas às manchetes chegam tarde demais.


Há que se ter em conta que a democracia brasileira, ainda jovem, depende da credibilidade das suas instituições para que possa amadurecer de forma sedimentada.


Solavancos nesta trajetória até podem ser considerados naturais, mas certamente são indesejáveis, por colocarem em risco as conquistas de um Estado democrático de direito. Ao assumirem seus cargos, as autoridades precisam, desde o início, aprender a tratar da coisa pública com o zelo devido, sem permitir ou patrocinar escorregões que maculem os princípios republicanos.


Todos queremos uma democracia saudável e duradoura, que proporcione bem-estar no presente e no futuro da sociedade brasileira. Para isso, é fundamental que as instituições possam servir de referencial positivo para a população. É o que se espera do Senado e da Câmara daqui para a frente."