OAB homenageia vida e luta de Chico Mendes, 20 anos após sua morte
Brasília, 22/12/2008 - "A morte de Chico Mendes, há 20 anos, gerou não um mito, mas um estado de consciência. Desde então, a luta em defesa do meio ambiente e dos trabalhadores da floresta passou a integrar a agenda política do país. E não apenas: obteve repercussão mundial". A afirmação foi feita hoje (22) pelo presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, ao exaltar a importância para a história brasileira do seringueiro e defensor da preservação da floresta amazônica, Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, morto no dia 22 de dezembro de 1988 por um tiro de espingarda.
Na nota, Britto lembra que Chico Mendes conscientizou e organizou os trabalhadores rurais da Amazônia, defendeu o fim da ação predatória na região e, de líder sindical e seringueiro, transformou-se em ícone da preservação da Amazônia. "Os danos que anteviu e denunciou aumentaram, mas hoje a voz dos que o seguem já não clama no deserto. É ouvida em todo o mundo e gera ações governamentais concretas e objetivas, mobilizando apoio internacional", afirmou Cezar Britto, acrescentando que a OAB se associa, hoje, às homenagens em memória do líder sindical.
Precursor do ambientalismo brasileiro, Chico Mendes nasceu e viveu nos seringais de Xapuri, no Acre. Ele defendia o direito à exploração dos recursos naturais, mas sem o esgotamento. Sua preocupação maior era com a sustentabilidade da Amazônia e contra transformação da floresta em pasto para criação de gado, intensificada a partir do fim da década de 1970. Dirigiu a Central Única dos Trabalhadores no Acre, foi vereador pelo MDB e participou da fundação do PT no Acre. Com os empates em torno da preservação da Amazônia, Chico Mendes passou a conviver com as ameaças de políticos e fazendeiros da região, tendo enviado às autoridades locais uma lista com os nomes de possíveis algozes.
O fazendeiro Darly Alves e o filho, Darcy, foram apontados como mandante e autor, respectivamente, da morte de Chico Mendes, em Xapuri. Em 1990, os dois foram condenados a 19 anos de prisão pela morte do seringueiro.
A seguir a nota divulgada hoje pelo presidente nacional da OAB, Cezar Britto:
"A morte de Chico Mendes, há 20 anos, gerou não um mito, mas um estado de consciência. Desde então, a luta em defesa do meio ambiente e dos trabalhadores da floresta passou a integrar a agenda política do país. E não apenas: obteve repercussão mundial.
Mostrou que no Brasil a sociedade caminha à frente do Estado, em busca de procedimentos que conciliem desenvolvimento com preservação do meio ambiente. Chico Mendes está na origem desse trabalho de organização dos trabalhadores da floresta.
Desenvolvimento sustentado, entre nós, tem a marca de seu pioneirismo e coragem. Conscientizou e organizou os trabalhadores rurais da Amazônia, mostrando que a ação predatória na região tinha - e tem - efeitos sociais e econômicos nefastos e precisa ter um fim.
A luta continua presente. Os danos que anteviu e denunciou aumentaram, mas hoje a voz dos que o seguem já não clama no deserto. É ouvida em todo o mundo e gera ações governamentais concretas e objetivas, mobilizando apoio internacional.
Só isso basta para dar à sua figura dimensão de herói nacional, fazendo com que os 20 anos de seu covarde assassinato sejam rememorados por todos quantos se preocupam com as causas humanitárias, aqui e em toda a parte.
Seu martírio por isso mesmo não foi em vão. E deve servir para que esta e as gerações futuras avaliem a importância da ação da cidadania organizada na superação do atraso e da tirania.
Não há outro caminho. Os governos só cumprem seus compromissos quando devidamente pressionados pela sociedade.
A Ordem dos Advogados do Brasil se associa às homenagens que no dia de hoje correm o mundo, em memória deste mártir da cidadania brasileira, cujo exemplo de luta e determinação honram nosso país."